terça-feira, 15 de outubro de 2013

CARTA ABERTA AO ALUNO NIKOLAS

Hoje, 15 de outubro de 2013, dia dos professores topei com a pérola de um aluno de uma unidade do SESI de Belo horizonte que pode ser lida ao se clicar AQUI.
Então, resolvi gastar um tempo do meu dia dos professores para corrigir os erros deste aluno, porque ainda acredito numa educação esclarecedora. Segue minha CARTA ABERTA AO ALUNO NIKOLAS:


Caro Nikolas,

Sou professor e venho, por meio desta, lamentar o presente que você acaba de dar para todos os professores e para a humanidade inteira. É horrível, no dia dos professores, ler o que você escreve do alto dos seu 17 anos. Quero acreditar que isso é somente fruto da desinformação, quem sabe pode ser também resultado de alguma falta ou cochilo em momentos importante da aulas. Como educador vou esclarecer alguns erros na sua argumentação para que você não cometa mais equívocos. Afinal, você se expôs bastante usando em seu texto termos e conceitos que visivelmente não domina. Vamos lá:

· Aplicar uma prova que trata de temas relevantes da sociedade atual não é ser ativista de coisa nenhuma. Se fosse do jeito que você pensou o professor de geopolítica seria “ativista da guerra”; o professor de matemática, “ativista numérico”; o de língua portuguesa, “ativista das palavras” etc. E isso seria um absurdo, não concorda comigo?
· Normalmente quando a gente emite uma opinião que acreditamos ser embasada a gente emite as fontes. De onde saiu a afirmação: “Os maiores assassinos de homossexuais foram os comunistas”? Quais são os números que provam isso? Que órgão realizou a pesquisa? É um órgão sério? Quais são os interesses por trás dessa pesquisa? Essa forma epistemológica de pensar através de perguntas e apresentando fontes é uma forma de dar crédito ao que estamos falando, ou descreditar dependendo da fonte que você usa. Isso se chama cientificismo ou pensamento acadêmico, algo que você irá aprender caso ingresse numa instituição de nível superior de ensino, comumente chamada universidade ou faculdade. Aconselho não usar informações publicadas na Veja normalmente elas são manipuladas em favor de interesses antes de serem apresentadas, ou seja não trás crédito acadêmico.
· Concordo com a coordenadora da sua escola ao pontuar que seu discurso é meramente “sua opinião”. Opinião é um termo desenvolvido pelo filosofo grego Parmênides, em grego opinião é “doxa” que significa “aquilo que não passa de conjetura”, “inferência acerca da realidade”. Assim, Opinião contrapõem-se a “ideia”, ou seja o “conhecimento verdade”, aquilo que esta fundamentado numa clara construção de pensamento embasado (olha o pensamento acadêmico ai de novo!). Quem tem “ideia” tem argumentação, quem argumenta de forma confusa e vazia tem “doxa”, “opinião”. Espero que você não esqueça esses conceitos, eles são importantes.
· Agora, não entendo onde que “falar acerca de homossexualidade” seja uma “doutrinação de esquerda”. Talvez eu possa ser simplesmente um professor limitado que não esta entendendo a sua brilhante teoria. Mas posso afirma com certeza que se você estivesse defendendo isso numa banca acadêmica você teria muita dificuldade em ser aprovado. “Homossexualidade” é uma coisa, “doutrina marxista” é uma outra coisa, e “doutrina de esquerda” é um conceito muito vasto. Um erro que você esta cometendo muito grave é colocar Homossexualidade no mesmo bojo que o pensamento filosófico: Homossexualidade é uma orientação sexual. Lógico que existem Homossexuais de esquerda, assim como também existem também, pasme você, os homossexuais de direita (posso afirmar ainda com certeza que alguns gays de direita são colunitas, pasme de novo, da Veja)! Acho que agora você pode entender porque a coordenadora de sua escola riu quando você fez essa leviana colocação. Para evitar constrangimentos futuros não caia mais nessa inverdade infundada.

Espero que você ainda esteja me acompanhando. Vamos lá, que você ainda errou bastante no seu texto.

· Não há fundamentos para você chamar o MEC de ministério da Educação Comunista. Porque a educação no Brasil não é nada comunista. Se a educação brasileira fosse comunista haveria mais escolas publicas, mais universidades publicas, mais verba para infraestrutura educacional publica, professores melhor remunerados e melhor preparados (imagina o que seria ter aula de geografia ou de matemática com um professor doutor numa escola municipal ou estadual!). Se o nosso Ministério da Educação fosse comunista você não precisaria estudar numa escola particular, ou seja, seus pais não precisariam gastar rios de dinheiro para que você tivesse que estudar (olha só que máximo!). Viu como nosso ministério da educação não é comunista? Provavelmente a coordenadora tenha rido novamente do que você falou porque ela já deve ter sentido o que é trabalhar no estado ou no município sem verba pra nada. Se fosse você, eu procuraria perceber que a estrutura política do pais é social-democrata de direita e por isso a educação é uma, desculpe a palavra, uma merda! Depois de entender isso continue aproveitando a infraestrutura do SESI e os maravilhosos professores que esta escola particular lhe oferece. Digo a você que tem muita gente agora nas escolas públicas sonhando com o dia que o MEC será comunista para as coisas melhorem.
· Gostaria que você também me provasse onde está a “ditadura gaysista do Brasil”. O correto na língua portuguesa seria você falar “ditadura gay”, mas como isso não existe não vejo a finalidade da existência do termo correto. Tenho vários amigos gays e nenhum até hoje quis deixar de ser meu amigo por eu ser heterossexual, nenhum gay nunca me bateu na rua por eu não ser gay, nenhum gay nunca me prendeu e nem me torturam para eu virar gay. E tenho convicção que nenhum gay tenha feito alguma barbaridade contra a integridade do seu corpo ou da sua moral. Caso você tenha sofrido assédio moral de algum homossexual algum dia na vida, lamento dizer que o ser humano, muitas vezes erra independente da orientação sexual.

Sinto informar que o sua “luta contra o gramiscismo na sala de aula” é uma luta quixotesca contra gigantes inexistentes. Seus fundamentos são moinhos de vento, meu caro. “Gramiscismo na sala de aula” não existe! Aconselho a você estudar mais, principalmente história e filosofia, para não cometer os mesmos erros ou outros mais graves na vida.

Espero ter sido útil enquanto educador.

Faço votos que você repare os seus erros conceituais.

Obrigado pela atenção

Professor João Alves

P.S.: Mesmo sendo professor de teatro, eu estava me esquecendo: Nelson Rodrigues se calou acerca do reacionarismo e parou de apoiar a Ditadura Militar, quando seu filho Nelsinho foi preso e barbaramente torturado pelo Estado Ditatorial.